22.2.17

Estagnação Secular (I)


Na palestra mencionada na postagem anterior, Philippe Aghion discutiu também a hipótese da “estagnação secular”, recentemente proposta por alguns economistas.

De acordo com esta hipótese, a desaceleração da taxa de crescimento da produtividade do trabalho, observada, nos últimos anos, nos países desenvolvidos, reflete uma tendência de longo prazo – não vai mais haver crescimento econômico acelerado, porque as inovações de maior impacto já ocorreram.

Em relação a esta hipótese, Aghion contrapõe os seguintes argumentos:

·         As novas tecnologias da informação e comunicação não mudaram apenas a maneira de produzir bens e serviços, mas também a maneira de produzir idéias. A tecnologia para produzir idéias nunca foi tão boa quanto é hoje.

·         Continua a haver uma grande necessidade de inovações, em áreas como saúde, energia renovável e outras, e os incentivos para a inovação são imensos, porque os retornos da inovação nunca foram tão grandes como são agora – graças à globalização, o mercado para uma grande inovação é o mundo inteiro, de modo que os retornos são muito elevados.

·         Para muitos países, há ainda a vantagem do atraso. Através de "reformas estruturais", é possível aumentar significativamente a taxa de crescimento da produtividade, como fizeram recentemente a Suécia, Holanda e Canadá.

·         Pode estar havendo problemas na mensuração do crescimento econômico, levando à impressão errônea de que o crescimento desacelerou. Quando um bem hoje custa mais do que outro bem que atendia a mesma necessidade ontem, é preciso determinar quanto dessa diferença de preço se deve a inflação e quanto se deve a melhora da qualidade. Se é exatamente o mesmo bem, o aumento de preço se deve exclusivamente à inflação. Se há uma ligeira melhora da qualidade, é possível estimar de quanto ela foi e separar os dois efeitos. Mas, quando se trata de um novo produto substituindo um produto antigo, a questão é mais complicada e aumentos de preço devidos a melhora da qualidade podem ser equivocadamente computados como inflação. É possível que o crescimento da produtividade total dos fatores esteja sendo subestimado em um ponto percentual por causa desses problemas de mensuração (em lugar de 1,5%, seja, de fato, de 2,5%, o que não se pode chamar de estagnação).